quinta-feira, 10 de junho de 2010

Plástica precoçe


*Cresce o número de adolescentes que recorrem às cirurgias. Mas psicólogos alertam para os perigos do arrependimento

A supervalorização da aparência no mundo moderno – disseminada entre adultos – começa a mostrar seu poder sobre os adolescentes. É crescente a quantidade de jovens que batem à porta dos cirurgiões plásticos para mudar as formas do rosto ou do corpo. Segundo levantamento realizado pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBPC), em 1994 foram feitos cerca de cinco mil procedimentos em adolescentes. Na última pesquisa da entidade sobre o tema, concluída neste ano, o número de operações em jovens de 14 a 18 anos subiu para cerca de 38 mil. “Houve um crescimento enorme na procura da cirurgia plástica pelos adolescentes”, afirma o cirurgião plástico Sérgio Levy, presidente da SBCP, seção do Rio de Janeiro.
Ainda que a lipoaspiração esteja entre os procedimentos mais pedidos, é sentida uma demanda cada vez mais intensa pela colocação de próteses de silicone para aumentar os seios e também por intervenções para alterar traços da face, como a rinoplastia (no nariz). Outras cirurgias frequentes entre os adolescentes são a correção das orelhas de abano, a redução de mamas nas mulheres e também os casos de ginecomastia em meninos (desenvolvimento excessivo dos seios).
Em um ano, mais de 50 mil jovens com idade até 18 anos fizeram plástica no Brasil
Os prós e contras de uma operação em idade tenra precisam ser avaliados com extremo cuidado. Em qualquer etapa da vida, mudar o corpo é uma decisão delicada, com implicações psicológicas. Se dá certo, melhora a autoestima. Se a meta não é atingida, pode causar insatisfação e até traumas. Por isso, na adolescência – uma fase de grandes mudanças físicas e psíquicas que pode levar ao desagrado com a própria imagem – esse passo precisa ser dado com cautela multiplicada. “Propor uma intervenção estética a um indivíduo que está passando por tantas transformações é um risco altíssimo”, diz a psicanalista Joana Novaes, coordenadora do Núcleo de Doenças da Beleza da PUC do Rio. O quadro se complica, por exemplo, se o jovem tem uma expectativa muito alta sobre as transformações que o recurso proporcionará. “Se ela não for alcançada, o adolescente pode se arrepender e estranhar o corpo. Pode até entrar em crise, se tiver tendência a distúrbios psicológicos”, diz. Na opinião da psicóloga Ana Olmos, de São Paulo, especialista no atendimento de crianças e adolescentes, a procura pela cirurgia plástica tão cedo é realmente preocupante. “Vejo um número grande de adolescentes que já fizeram até mais de uma cirurgia antes dos 20 anos. Isso pode ser um sinal de transtornos de imagem que causarão ainda mais problemas, se não forem identificados.”
Dependendo da idade do paciente, existe também o risco de atropelar o desenvolvimento do corpo com a intervenção. “Diminuir o nariz muito cedo pode deixar o jovem com traços desproporcionais no futuro, pois ele não acompanhará o crescimento do rosto”, atesta a cirurgiã Natale Amorim, do Rio. Quanto às próteses de silicone, os especialistas consideram perigoso colocá-las antes de saber quanto a mama ainda irá crescer. De acordo com as recomendações da SBCP, o processo está concluído quatro anos depois da primeira menstruação

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